Notícia

Elisabete vive há dois meses num carro com o cão Pepe

25.09.2019

Elisabete vive há mais de dois meses num carro, num parque de estacionamento de um supermercado em Rio Tinto. Fá-lo porque não quer deixar Pepe, o cão de 13 anos que a acompanha e as quatro gatas que alojou temporariamente em casa de uma pessoa amiga. Elisabete é apenas o rosto – agora visível – de um problema para o qual a Animalife alerta há vários anos: o da falta de respostas sociais que incluam o acolhimento de pessoas e animais.

Elisabete viveu sempre com a mãe, que morreu recentemente, vítima de doença prolongada. A senhoria decidiu vender a casa e, em julho, foi dada ordem de despejo, o que a obrigou a vir para a rua juntamente com o cão e quatro gatas. Com um rendimento social de inserção de 189,66 euros, viu-se incapaz de pagar uma casa. E teve de procurar alternativas.

Começou por conseguir um alojamento temporário em casa de pessoas conhecidas. Mas a solução durou pouco tempo. Deixou as gatas num espaço de arrumação em casa de uns amigos, mas para o cão não arranjou teto. Já lhe foram oferecidas diversas opções de alojamento – comparticipado, em centros de acolhimento –, mas nenhuma prevê a possibilidade de levar consigo os cinco animais de estimação.

Foi isso que levou Elisabete a procurar a ajuda da Animalife, que luta há vários anos para que sejam criadas respostas sociais que incluam os animais.

Através de investigação e contactos com instituições de solidariedade, a Animalife percebeu que existe no país, nomeadamente em Lisboa e no Porto, uma quantidade significativa de pessoas em situação de sem abrigo que têm a seu cargo animais de estimação. Estes cães e gatos podem fazer parte de um projeto de vida, constituindo um estímulo para que os seus donos sintam uma necessidade maior de se reintegrarem na sociedade.

Na maioria dos casos, estes homens e mulheres não estão dispostos a abdicar do vínculo forte que os une aos seus animais, o que acaba por dificultar a reintegração nas respostas sociais existentes.

O que nos leva de novo ao caso de Elisabete. Decidida a não abandonar Pepe e as gatas, com o apoio da Animalife, já falou com a imprensa e participou num programa de televisão. Tudo para alertar para uma realidade mais comum do que gostaríamos de imaginar.

Até agora, Elisabete ainda não conseguiu solução definitiva para a situação em que se encontra. A Animalife está a contribuir com alimentação e desparasitação para todos os animais. O Pepe foi já apoiado com vacinação e identificação eletrónica e, em breve, também as quatro gatas serão esterilizadas, vacinadas e identificadas eletronicamente.

Gostaríamos que a Elisabete conseguisse obter uma resposta por parte da própria Câmara de Gondomar, que contemplasse a possibilidade de alojamento para toda a família – Elisabete, Pepe e as gatas – de forma a proporcionar a realização de um projeto de vida para este agregado. Um tipo de solução que tarda em surgir e que faz com que casos como o de Elisabete sejam ainda demasiado comuns.