Notícia

Dia Internacional do Animal Abandonado

21.08.2021

31 339. Foi este o número exato de animais recolhidos em 2020 nos Centros de Recolha Oficial (CRO) de todo o País. É também este o número considerado para as estatísticas do abandono em Portugal. Na prática, fica muito aquém da realidade. Anualmente são deixados à porta de abrigos, clínicas veterinárias ou até mesmo na rua à sua sorte milhares de animais que não entram para a contagem oficial. Em mais um Dia Internacional do Animal Abandonado, a Animalife não pode deixar de chamar a atenção para este verdadeiro flagelo, que a pandemia veio agravar.
 
Nos últimos anos, o número oficial de animais abandonados em Portugal tem sofrido poucas oscilações. De acordo com dados da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), em 2020 foram abandonados 31 339 animais, um número inferior ao do ano anterior – em que foram recolhidos 31 966 animais – e ainda mais surpreendente se comparado com o de 2018 (36 500 animais recolhidos).
 
A diminuição do número de animais recolhidos não significa uma descida do número de abandonos. Antes traduz a total incapacidade dos CRO, completamente sobrelotados, para retirar da rua novos animais.
 
A existência de dificuldades relacionadas com a sobrepopulação de animais nos centros de recolha é há já vários anos, uma realidade, transversal à maioria dos municípios. A situação agravou-se consideravelmente com a entrada em vigor da lei 27/2016, que veio proibir o abate de animais errantes como forma de controlo da população.
 
Apesar da legislação recente prever a criação ou ampliação de novos centros de recolha, a falta de investimento em capacidade de alojamento animal continua. Somando a isto a drástica redução do número de abates – permitidos apenas nos casos de doença ou de agressividade do animal –, o resultado é o crescimento da população errante. 

Abandono aumenta com pandemia
 
A pandemia de Covid-19 veio complicar ainda mais um cenário já de si desolador.
 
Segundo um inquérito realizado pela Animalife no final de 2020 junto de mais de 200 associações nacionais de proteção animal, 90% das respostas confirmam um aumento do abandono na sequência da pandemia, que chega nalguns casos a ser superior a 30%.
 

No mesmo sentido, apontam os números das forças de segurança. Entre janeiro e agosto do ano passado, a PSP e a GNR registaram 667 crimes de abandono de animais a nível nacional. A maioria dos casos ocorreu em Lisboa, Porto, Setúbal e Leiria. Durante o mesmo período do ano anterior, tinham sido registados menos de 500 casos.

 
O próprio perfil dos animais abandonados mudou. São agora mais comuns casos de animais mais velhos, habituados a uma vida de casa, simplesmente deixados na rua ou entregues à porta de um canil.

As dificuldades económicas decorrentes da pandemia, provocadas por exemplo por situações de desemprego, são a principal causa invocada para justificar o aumento do número de animais abandonados neste período. Os constrangimentos no acesso a bens e serviços de primeira necessidade, como alimentação ou tratamentos médico-veterinários, são outro dos motivos a levar ao abandono, segundo o inquérito promovido pela Animalife.

A estes fatores junta-se ainda o facto de a pandemia, que já matou mais de 17 500 portugueses, estar a deixar um número significativo de animais "órfãos". Em muitos casos, pessoas que viviam sozinhas deixaram os animais sem proteção. Noutros, a guarda passou para familiares ou pessoas próximas, que de um momento para o outro se viram responsáveis por mais animais do que aqueles que já tinham, levando a uma pressão financeira significativa e a um consequente aumento do número de pedidos de ajuda junto de entidades como a Animalife.
 
Combater o problema na origem
 
A Animalife luta há 10 anos para pôr um fim definitivo ao abandono de animais de companhia em Portugal. Acreditamos que a solução passa por atuar a montante do problema, apoiando economicamente aqueles que se veem obrigados a entregar os seus animais por não poderem cuidar deles.
 
Através dos nossos três programas de apoio – a famílias carenciadas, a pessoas em situação de sem-abrigo, a associações e grupos de apoio animal –, zelamos para que todos possam manter os animais a seu cargo em condições de vida dignas. Atualmente, apoiamos cerca de 335 entidades de apoio animal, 170 protetores e perto de 700 pessoas em situação vulnerável, num universo de mais de 65 mil animais ajudados.

Defendemos o princípio da detenção responsável e, nesse sentido, elencamos a esterilização, a identificação eletrónica e a adoção como três estratégias fundamentais para prevenir e minimizar o impacto do abandono de animais de companhia.

E quando falamos em esterilização referimo-nos a todos os animais, principalmente aos pertencentes a famílias com poucos recursos, e não somente à esterilização de animais errantes.

Encaramos com algum otimismo os apoios disponibilizados no âmbito do Programa Nacional para os Animais de Companhia e a realização do primeiro Censo Nacional dos Animais Errantes recentemente anunciados.

Consideramos que esta será uma boa oportunidade de intervenção e cooperação entre todas as entidades públicas e privadas envolvidas na prevenção do abandono. Só em conjunto, será possível encontrar solução para um problema que, em especial no último ano, se agravou consideravelmente no nosso país.

O Dia Internacional do Animal Abandonado

O Dia Internacional do Animal Abandonado é assinalado, desde 1992, todos os anos no terceiro sábado de agosto.
Este dia tem como principais objetivos:

  • Promover a adoção de animais;
  • Sensibilizar contra o abandono;
  • Mostrar os benefícios de tratar devidamente os animais de companhia.

Adotar, cuidar e esterilizar são alguns dos conceitos divulgados.

Mundialmente, neste dia, decorrem eventos de sensibilização e de adoção de animais em muitas associações e canis.